Augusto Pires Celestino da Costa (1884-1956) foi um médico, investigador e cientista português. Natural de Lisboa, filho de Pedro Celestino da Costa, coronel morto nos tiroteios da madrugada de 4 de outubro de 1910, graduou-se em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, em dezembro de 1905, com uma tese sobre as glândulas supra-renais. Foi aluno de Mark Athias no Laboratório de Histologia do Hospital de Rilhafoles, «assistente livre» no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, entre 1907 e 1910, neste mesmo período realizando diversos estágios de curta duração no estrangeiro, dos quais se destacam os que realizou no Instituto Anátomo-Biológico de Berlim sob orientação de Oscar Hertwig, entre 1906 e 1907, e na Bélgica, no laboratório de Albert Brachet (1869-1930) com quem manteve correspondência.
Em 1910, reingressa na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa como «preparador de Histologia e Fisiologia» e pouco depois (em 1911), na sequência de concurso, veio a ocupar o lugar de assistente, da entretanto criada Faculdade de Medicina, na primeira Reforma do Ensino da nova República Portuguesa. Aqui fundou Celestino da Costa o Instituto de Histologia e Embriologia, juntamente com Pedro Roberto Chaves, Luís Simões Raposo e Alfredo Magalhães Ramalho. Pela mesma época, publicou trabalhos em revistas científicas internacionais como o Buletin de l'Académie Nationale de Médecine (Paris) ou o Compte-Rendu de l'Association des Anatomistes, agremiação de que foi membro a par de Mark Athias. Celestino da Costa era então, já por essa altura, especialista mundialmente reconhecido de Histologia e Endocrinologia, respeitado pelas suas investigações em torno da Morfologia e função das glândulas suprarrenais nos mamíferos.
Sócio fundador da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais em 1907, Celestino da Costa veio a integrar a direção do Aquário Vasco da Gama, com Mark Athias e outros especialistas portugueses, sob a direção de Anthero de Seabra. Mais tarde, assumiu a direção do mesmo equipamento (entre 1916 e 1923), sendo de permeio nomeado diretor do Laboratório Central de Análises Clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa (em 1919). Com Mark Athias e Abel Salazar fundou, entretanto, os «Arquivos Portugueses de Ciências Biológicas» e a Sociedade Portuguesa de Biologia.
Bolseiro da Fundação Rockefeller, realizou uma estadia no Laboratório de Embriologia da Universidade de Londres (University College), em 1934.
Investigador diligente e prolífico, inteiramente empenhado no desenvolvimento da educação, da cultura e da ciência em Portugal, Celestino da Costa desempenhou um papel fundamental na inscrição da Ciência entre os negócios políticos, na Junta de Educação Nacional, de que foi sucessivamente vogal, vice-presidente («do ramo de sciências») e presidente, entre 1929 - ano da criação deste organismo - e 1936, ano em que assumiu a presidência do Instituto para a Alta Cultura. Próximo do entendimento de António Sérgio e do grupo da Seara Nova no conceito evolucionista da educação e do progresso científico e técnico, fora membro fundador da Liga de Acção Nacional e signatário do seu manifesto (1918), sócio e presidente da Sociedade de Estudos Pedagógicos, colaborador de «Homens Livres», publicação de vida efémera onde analisa « O problema da investigação scientífica em Portugal» (no nº 2, 12 de dezembro de 1923).
Grande amigo da cidade de Lisboa, a esta dedicou alguns estudos ou roteiros como «Introduction à la connaissance de Lisbonne», publicado pela Bertrand em 1933, ou a conferência que proferiu em 1941, no rescaldo das comemorações centenárias, sobre «Lisboa, capital de Portugal», tendo presidido à Junta Directiva do Grupo dos Amigos de Lisboa, em 1947. Assinou regularmente diversos verbetes sobre Medicina, Microscopia e Biologia na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, tendo publicado obras de divulgação científica pela Biblioteca Cosmos de Bento de Jesus Caraça, bem como livros técnicos especializados como o «Manual de Técnica Histológica» (realizado em parceria com Pedro Roberto Chaves), que teve uma primeira edição em 1921, destacada por Abel Salazar pela «notabilíssima realização». Em 1938 publicou, em francês, o seu Manual de Embriologia («Éléments d'embryologie», Paris, Masson et Ce., com 2ª edição de 1948), que teria uma versão castelhana em 1945. A ele se devem muitos dos esquemas e diagramas histológicos com que ilustrou os seus trabalhos científicos, bem como a promoção da microfotografia, técnica que historiou num opúsculo publicado em 1940.
Celestino da Costa assumiu, igualmente, a direção da Faculdade de Medicina e tomou parte ativa na realização do Congresso da Association des Anatomistes na cidade de Lisboa, em abril de 1933, uma proposta que remontava a 1927 quando com Albert Brachet na presidência, foi vice-presidente do Congrès da Association des Anatomistes realizado em Londres, nesse mesmo ano. Foi secretário-geral da Sociedade Anatómica Portuguesa e, entre 1946 e 1949, presidente da direção da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.
Em 1947, o seu nome integrou a lista de personalidades abrangidas pela pena de aposentação compulsiva decretada pela Presidência do Conselho em 18 de junho. Reintegrado, professor jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa (FML), continuou a sua atividade como investigador e diretor do Instituto de Histologia e Embriologia (IHE).
Augusto Celestino da Costa faleceu em Lisboa, em 27 de março de 1956, no decurso da 43ª reunião da Association des Anatomistes a cujos trabalhos assistia na qualidade de presidente. Membro de diversas agremiações internacionais de ciência, entre as quais a Association des Anatomistes (de França), o Colégio Anatómico Brasileiro e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Zoological Society of London, a Académie Royale de Médecine de Belgique, de que fora eleito membro honorário correspondente estrangeiro, em 1939, membro titular do Institut International d'Embryologie, foi distinguido com o grau de Doutor Honoris Causa pelas faculdades de medicina de São Paulo (Brasil), Bordéus, Toulouse e Montpellier. Celestino da Costa foi, igualmente, Conselheiro de honra do Consejo Superior de Investigaciones Científicas de Espanha, agraciado com o grau de Comendador da Légion d'Honneur de França, em 14 de junho de 1951. Celestino da Costa deixou uma extensa obra bibliográfica, técnica e científica - privilegiando a Histologia, a Embriologia, a Endocrinologia, a Biologia Celular, a Microscopia -, mas também cultural e cívica, em prol da educação científica e da investigação nacional.