José Francisco David Ferreira (1929-2012), natural de Montargil, estudou em Lisboa, ingressando na Faculdade de Medicina de Lisboa (FML), em 1947. Aluno de Luís Ernani Dias Amado, orienta-se para os estudos de medicina celular, assistindo aos trabalhos do Instituto de Histologia e Embriologia então sob a direção de Augusto Celestino da Costa. Concluiu a licenciatura em 1952. «Assistente voluntário» da Faculdade de Medicina de Lisboa, foi contratado sucessivamente como «2º Assistente» («além do quadro», em 1955, e no quadro, em 1957) e «1º Assistente de Histologia» (em 1960). Bolseiro do Instituto de Alta Cultura (IAC) entre 1954 e 1962, David Ferreira efetuou um primeiro estágio no Departamento de Anatomia do Karolinska Institut, em Estocolmo, mais tarde completando a sua formação, em Villejuif, Paris (entre 1956 e 1962), como estagiário no Institut de Recherches sur le cancer/Institut Gustave-Roussy, onde aperfeiçoou a técnica da microscopia eletrónica, bem como os estudos de «ultrastrutura das células embrionárias». O conhecimento dos equipamentos e das modernas técnicas laboratoriais e de preparação dos tecidos também se proporcionou com as diversas visitas realizadas a laboratórios europeus (Bruxelas, Estocolmo, Lund, Düsseldorf, Copenhaga). David Ferreira obteve o doutoramento em 1960 pela Faculdade de Medicina de Lisboa, com uma tese intitulada «A diferenciação do condrioma, aparelho de Golgi e ergastoplasma: estudo ao microscópio electrónico». Entre 1962 e 1965 foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, estagiando nos EUA, na Harvard Medical School e no National Institute of Health/National Cancer Institute de Bethesda. Quando regressou a Portugal, participou ativamente na criação do Centro de Biologia do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e desempenhou, pouco depois, funções como diretor do Laboratório de Biologia Celular do mesmo IGC. Participou na criação da Sociedade Portuguesa de Microscopia Eletrónica, sendo seu sócio fundador, em 1966, e mais tarde presidente (em 1972, 1979 e 1988). Foi sócio efetivo da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais (desde 1958) e da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e da Sociedade Portuguesa de Biologia. Como docente da Faculdade de Medicina de Lisboa, à qual regressara em 1974, foi regente das disciplinas de Biologia Celular e de Histologia e Embriologia, professor extraordinário e, desde 1979, professor catedrático da mesma instituição. Nesse mesmo ano, foi designado membro do Conselho Consultivo das Ciências da Saúde do INIC. Ainda no âmbito académico, David Ferreira foi promotor e coordenador científico do Centro de Biologia e Patologia Molecular da Universidade de Lisboa (CEBIP), diretor do Instituto de Histologia e Embriologia e do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina de Lisboa, coordenador do Gabinete de Apoio à Investigação Científica (GAPIC), vice-reitor da Universidade de Lisboa, entre 1997 e 2002. Agraciado com o título de Grande Oficial da ordem da Instrução Pública em 1999, professor jubilado da Universidade de Lisboa no mesmo ano, David Ferreira deixou uma obra de referência no âmbito da sua especialidade, a microscopia eletrónica e a biologia celular, tendo igualmente dedicado uma parte da sua carreira à história da medicina em Portugal no século XX. Teve como companheira de vida e de investigação, Karin David Ferreira que foi técnica preparadora especializada em microscopia, com a qual publicou trabalhos científicos no âmbito da microscopia eletrónica e dos estudos sobre «ultraestrutura das células sanguíneas». O trabalho de José Francisco David Ferreira no âmbito da microscopia eletrónica e da medicina molecular valeu-lhe diversos prémios, tendo sido por cinco vezes distinguido com o prémio Pfizer/SCML.
A documentação depositada no ACT acompanha e reflete as diversas atividades em que David Ferreira participou ativamente ao longo dos 60 anos em que a sua carreira se desenrolou. Em primeiro lugar, a investigação em medicina celular e molecular, com ênfase na microscopia eletrónica, técnica de que foi um importante promotor, com numerosas publicações nacionais e estrangeiras a que deu a sua colaboração. Em segundo lugar, a atividade docente no ensino superior, carreira académica que o foi projetando de assistente voluntário, em 1954, a professor catedrático, em 1979, até ao posto de vice-reitor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, entre 1999 e 2002. Igualmente relevantes na personalidade de David Ferreira e com reflexos diretos no acervo documental conservado, foram as iniciativas de promoção social e divulgação das ciências em que se envolveu. Interessado pela história da medicina e da ciência, apresentou em diversas ocasiões os trabalhos de colegas e mentores entre os quais de Celestino da Costa que reconhecera como seu mestre e sobre o qual haveria de recolher uma importante coleção documental, nomeadamente separatas e outros documentos relativos ao ensino médico, em Portugal.